A ausência da dor muscular é sinônimo de recuperação muscular?
Ao término de uma sessão na musculação é usualmente utilizado entre os praticantes um intervalo adequado para uma nova sessão. Conhecido no âmbito do treinamento, como heterocronicidade, este intervalo pode possuir muitas “janelas” de horas de recuperação de acordo com o período (experiência) do praticante, aspectos metabólicos/bioquímicos e principalmente na relação direta com a "carga de treinamento" aplicada em sessão.
Sayers e Clarkson (2000, 2001), avaliaram a recuperação durante algumas horas após uma sessão de treinamento envolvendo 50 ações musculares excêntricas. A força muscular determinada pelo teste de contração voluntaria máxima não foi totalmente restabelecida 132 horas após o exercício.
McLester et al. (2003), investigaram a recuperação após o treinamento com pesos utilizando indivíduos treinados. A sessão de treinamento incluiu 3x10 RM em 8 exercícios até a exaustão (falha muscular).
A recuperação muscular foi avaliada pelo número de repetições executados após 24, 48, 72 ou 96 horas de recuperação para os mesmos exercícios. Conforme esperado, houve uma importante variabilidade entre os voluntários (princípio da individualidade biológica) para os resultados. Entretanto, nenhum dos participantes foi capaz de realizar a mesma sessão de treinamento após 24 horas, sugerindo um estado de recuperação incompleta. Após 48 horas de recuperação, 40% dos voluntários estavam recuperados e realizaram o mesmo protocolo, e em 72 e 96 horas 80% dos voluntários apresentavam recuperação completa.
Isto significa que supostamente a DOR está mais relacionada às respostas inflamatórias tardios pós treino, e não necessariamente às lesões “estruturais” (ENOKA,1996,1997).
Neste ponto é relevante mencionar o EFEITO CARGA REPETITIVA, que "supostamente" irá trazer menor sintomática da dor após treinos, principalmente das ações excêntricas conforme o sujeito for exposto muitas vezes a este tipo de ação em treinos. Assim como a liberação da ENDORFINA, amenizando também a dor via terminações nervosas.
Com isto, devemos nos atentar para não avaliar o intervalo adequado baseado “unicamente” nos aspectos subjetivos relacionados a dor. Lembrando que também existem outros marcadores de danos musculares, como CKMM, AST, LDH, MCH, Mioglobina, imagens e outros para maior compreensão do fenômeno. Além da influência direta do estado de treinamento do praticante.
Planejamento, avaliação e controle de carga são colunas essências no processo do treinamento.
Referências
Enoka M. Eccentric contractions require unique activation strategies by the nervous system. Journal of Applied Physiology Published 1 December 1996 Vol. 81 no. 6, 2339-2346.
Enoka M. Neural adaptations with chronic physical activity. Department of Kinesiology, University of Colorado, Boulder, CO 80309-0354, U.S.A. Journal of Biomechanics, May 1997 DOI: http://dx.doi.org/10.1016/S0021-9290(96)00170-4.
McLester JR. et al. A series of studies: A practical protocol for testing muscular endurance recovery. J Strength Cond Res. 2003;17(2):259-73.
SAYERS SP, CLARKSON PM, LEE J. Activity and immobilization after eccentric exercise: I. Recovery of muscle function. Medicine and Science in Sports and Exercise. Vol.32, n 9, pp:1587-92, 2000.
Sayers SP, Clarkson PM. Force recovery after eccentric exercise in males and females. Eur J Appl Physiol.
Publicado por professor mestre Leonardo Lima.
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