Pular para o conteúdo principal

COMO FUNCIONA O EMAGRECIMENTO HUMANO

DIETAS COMO ELAS AGEM NO CORPO


Cortar calorias de uma hora para outra é roubada: além de o organismo começar a poupá-las, fica preparado para engordar assim que você cair em tentação
Por Claudia Carmello
access_time10 nov 2017, 12h19 - Publicado em 15 set 2016, 17h15
A grande novidade no mundo das dietas não é nenhum regime revolucionário. É a publicação, no New England Journal of Medicine, dos resultados do maior experimento já feito na área, coordenado pela Faculdade de Saúde Pública de Harvard. Eles estudaram 811 pessoas com sobrepeso e as dividiram em grupos que, ao longo de dois anos, adotaram quatro dietas diferentes – todas eram balanceadas e saudáveis, mas diferiam nas porcentagens de proteína, carboidrato e gordura. Ao fim do programa, os seguidores dos quatro planos perderam a mesma média de peso: 4 quilos. Conclusão? Não importa o que você coma, o que emagrece é ingerir menos calorias. Aliás, dietas malucas podem até engordar.
PUBLICIDADE
A notícia é boa. Significa que não é preciso deixar de comer o que gosta, basta comer menos. O corpo pode até reagir diferente a diferentes nutrientes, mas a pesquisa confirmou que, na prática, o que pesa na balança é o que já tinha sido descoberto em 1850, com a 1ª lei da termodinâmica: colocando para dentro menos energia do que gasta, você emagrece; colocando mais, engorda; colocando igual, mantém o peso.
Como de costume, a má notícia vem junto: foram só 4 quilos perdidos em dois anos. No primeiro semestre, os voluntários até emagreceram mais: 6 quilos na média. Mas aos poucos o autocontrole de calorias foi sendo relaxado e o peso foi recuperado. Você pode estar pensando que os gordinhos e gordinhas da pesquisa são uns frouxos e que com você é diferente. Mas a psicologia e a estatística garantem que não é.
Três décadas de estudos científicos sobre dietas ensinam uma lição para lá de cética: a longo prazo, nove em cada dez pessoas que fazem regimes não conseguem manter o peso alcançado. Por quê? Parece fatalismo, mas seu corpo, sua mente e o ambiente ao redor colaboram para que você volte a comer mais e a engordar novamente.
O primeiro inimigo é seu próprio corpo, que age contra a dieta logo que os resultados aparecem. Quanto mais radical, mais ele contra-ataca. A lógica: seu organismo não sabe a diferença entre a decisão de comer menos e fome involuntária. Para ele, se há uma constante perda de peso, sua vida está em risco. E trata de guardar energia.
Como você funciona
Para entender essa mobilização do organismo contra seu emagrecimento, é preciso entender como ele busca a energia para que você respire, caminhe, raciocine, mantenha o corpo a 37˚C. Para ele, o que vale são os carboidratos, as gorduras e as proteínas.
O carboidrato é o principal combustível do corpo. Suas sobras são estocadas em pequena quantidade e transformadas em glicogênio. Como o glicogênio retém água, e isso ocupa espaço, é mais vantajoso para o corpo se livrar do carboidrato e guardar outro nutriente: a gordura. Ela é armazenada desidratada, ou seja, tem mais calorias em menos espaço e, na prática, pode ser estocada sem limite. Eis o porquê de aquele pneuzinho crescer devagar, mas sempre. No espelho, uma derrota; na evolução, uma estratégia que garantiu a reprodução de vários genes. Já as proteínas são os tijolos do organismo: usadas para construir células, não estão livres para virar energia.
O que acontece se você passar a comer pouco? Vai gastar as calorias do alimento recém-consumido e, como não será suficiente, vai começar a gastar as reservas. Isso é emagrecer. O corpo usa primeiro o glicogênio, depois aproveita a gordura, e, se você continuar de boca fechada, parte para as proteínas, ou seja, seus músculos.
Durante a dieta, como o corpo recebe menos energia a cada dia, a reação não tarda. “É a reprogramação metabólica, a estratégia do organismo para sobreviver numa guerra”, diz Patrícia Jaime, professora do Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da USP. A lipase, enzima que regula o estoque de gordura, fica superativada. Também diminui o hormônio que nos deixa saciados (leptina) e aumenta o que nos dá fome (grelina). Lembre-se: seu corpo faz tudo para que você coma.
Moral da história: num regime bravo, a fome pisa no acelerador, a saciedade no freio e, mesmo com a restrição de calorias do início da dieta, o ritmo de emagrecimento estagna. Esse é o “platô da dieta”, o ponto em que muita gente se frustra e volta à comilança, que vira gordura mais rápido do que antes (lipase superativada, lembra?). É o efeito sanfona, o sistema que faz você engordar mais a cada dieta frustrada.
Exceções à regra
Claro, para essa regra há invejadas exceções. Quem não conhece um cara que come até estourar e nunca engorda? É a hereditariedade. Genes da obesidade têm sido identificados pelos cientistas, e estudos com gêmeos mostraram que a genética contribui com seu peso entre 40 e 70%.
Há também a questão do exercício: para a OMS, há evidências convincentes de que eles não emagrecem. Mas, como hábito ao longo da vida, são ótimos para regular o peso. Não só pelo esforço, mas pelo resultado: músculos consomem mais energia para se manter do que o tecido gorduroso. Ou seja: se você tiver um corpo sarado, vai gastar mais calorias mesmo que não esteja fazendo nada.
Você pode pensar: se há formas de interferir no metabolismo, então emagrecer de forma duradoura é possível. Sim. Só que a dieta não é o caminho. A ideia de fazer um regime radical para secar e depois um mais leve para manter-se magro é uma armadilha. A maneira mais segura de emagrecer é devagar, reduzindo aos poucos a ingestão de calorias. Isso previne reações contrárias do organismo e dá tempo para adotar mudanças duradouras no estilo de vida.
Acredita-se que seja saudável perder de 5 a 10% do seu peso em seis meses – para alguém de 60 quilos, no máximo 1 quilo por mês. Se precisar emagrecer ainda mais, deve primeiro manter o novo peso por seis meses, para depois investir em mais emagrecimento. Como fazer isso? Aprendendo a comer menos e melhor, e tendo uma vida mais ativa. Como se viu no estudo de Harvard, a receita é simples. O que não significa que seja fácil.
Mitos

1. “A base da dieta faz a diferença”
Na verdade, tanto faz se a dieta tem base de carboidratos, gorduras ou proteínas: o maior estudo sobre o assunto concluiu que todas se equivalem no emagrecimento a curto prazo e na recuperação do peso a longo prazo. Para a balança, o que interessa é quantas calorias o alimento tem.
2. “Mulher engorda mais fácil que homem”
Em média, sim. Mas isso não tem nada a ver com elas serem mulheres. Acontece que homens, por terem naturalmente um volume maior de ossos e músculos, têm o metabolismo mais acelerado. Ou seja: entre uma mulher musculosa e um homem flácido, quem engorda mais fácil é ele.
3. “O estômago cresce com a barriga”
Só em quem come quantidades colossais. Logo, é mito que para emagrecer é preciso comer menos até o estômago diminuir e “pedir” menos comida. O que engorda a maioria é beliscar itens de alta concentração energética e ir acumulando calorias extras.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Proteína Miostatina... RHYTMUS

A  miostatina  (formalmente conhecida como  factor 8 de crescimento e diferenciação ) é um  fator de crescimento  que limita o crescimento do  tecido muscular , por exemplo concentrações elevadas de miostatina em um indivíduo provocam uma diminuição no desenvolvimento normal dos músculos. 1 A proteína miostatina é produzida em células do músculo esquelético, circula no sangue e actua no tecido muscular, parecendo atrasar o desenvolvimento das "células-mãe" musculares. O mecanismo exato segue sendo desconhecido. Miostatina e o  gene  associado foram descobertos 1997 pelos genetistas McPherron e Se-Jin Lee, que também produziram uma estirpe do mutante em ratos com a carência do gene e eram em torno de duas vezes mais fortes que ratos normais. [3]   2 O gene foi sequenciado em humanos, ratos, peixes, zebras e vários outro animais, 3  demonstrando poucas diferenças entre espécies. Lee descobriu em 1997 que a raça bovina "Azul Be...

Método Continuo Extensivo e Intensivo

A partir de hoje  Toda a Semana levantaremos um tema para estudo e reflexão e contamos com a participação de todos podendo ser, Escrito, Vídeo ou Áudio, essa semana comentaremos um pouco sobre os principais tipos e métodos de treinamento de corrida.  O objetivo da descrição destes métodos é enfatizar a necessidade de um acompanhamento profissional para a elaboração dos treinamentos e verificação dos resultados obtidos com uma periodização. Correr aleatoriamente pode até trazer benefícios, mas nunca será melhor do que seguir uma programação com base nos dados coletados em sua avaliação cardiorrespiratória. Somente desta maneira você conseguirá atingir os reais benefícios desta modalidade, reduzindo o risco de lesões e afastamento do exercício físico. O primeiro método a ser discutido é o “Contínuo”. Este tipo de treino é caracterizado pela manutenção da intensidade durante todo o período de treinamento, e possui duas subdivisões: “Contínuo extensivo” e “Contínuo intensi...

Números da Obesidade no Brasil

Recentemente, o Ministério da Saúde divulgou um pesquisa que revela que quase metade da população brasileira está  acima do peso . Segundo o estudo, 42,7% da população estava acima do  peso  no ano de 2006. Em 2011, esse número passou para 48,5%. O levantamento é da  Vigitel  (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas  por Inquérito Telefônico), e os dados foram coletados em 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal. De acordo com a Dra. Rosana Radominski, presidente do Departamento de Obesidade da SBEM, os novos resultados não são novidade, se comparados com os de 2010. “O dado agravante é o aumento de mais de 0,5% do excesso de peso e da obesidade em um ano. Isso é alarmante, se formos extrapolar os dados para os próximos dez anos”, alerta a especialista. O estudo também revelou que o  sobrepeso  é maior entre os homens. 52,6% deles está acima do  peso ideal . Entre as mulheres, esse valor é de 44,7%. A pesqu...